Judith Butler fala sobre gêneros

[Pergunta da entrevistadora Cristan Williams]: Se “gênero” inclui o jeito como nós experimentamos, contextualizamos e comunicamos subjetivamente nossa biologia, você pensa que viver em um mundo sem “gênero” é possível?
Judith Butler: Às vezes há formas de minimizar a importância do gênero na vida, ou de confundir categorias de gênero para que elas não mais tenham poder descritivo. Mas outras vezes o gênero pode ser muito importante para nós, e algumas pessoas realmente amam o gênero que reivindicaram para si mesmas. Se o gênero for erradicado, será um importante domínio de prazer para muitas pessoas. Já outras têm uma noção forte de si amarrada aos seus gêneros, então acabar com o gênero seria destruidor para sua noção de si. Acho que temos que aceitar uma larga variedade de posições sobre o gênero. Alguns querem ser livres de gênero, mas outros querem ser livres para viver um gênero que é crucial para quem eles são.
Gender trouble foi escrito há 24 anos e naquele período eu não pensei o suficiente sobre as questões trans. Algumas pessoas trans pensaram que ao alegar que o gênero é performativo eu estava dizendo que é tudo uma ficção e que o senso de gênero sentido por uma pessoa era portanto “irreal”. Essa nunca foi minha intenção. Eu procurava expandir nossa noção do que as realidades de gênero poderiam ser. Mas acho que precisava prestar mais atenção ao que as pessoas sentem, à forma que a experiência primária do corpo é registrada e à demanda urgente e legítima de ter esses aspectos do sexo reconhecidos e apoiados.

Eu não quis argumentar que o gênero é fluido e mutável (o meu certamente não é). Eu só quis dizer que todos nós devemos ter uma liberdade maior para definir e levar nossas vidas sem patologização, alegações de irrealidade, assédio, ameaças de violência, violência e criminalização. Eu me junto ao esforço para concretizar tal mundo.
E, de bandeja, uma declaração também inequívoca da ícone Gloria Steinem:

Então, agora eu quero ser completamente inequívoca em minhas palavras: eu acredito que as pessoas trans, incluindo aquelas que se transicionaram, estão vivendo vidas reais e autênticas. Essas vidas devem ser celebradas, não questionadas. As decisões relativas à sua saúde cabem somente a essas pessoas. E o que escrevi há décadas não reflete o que nós sabemos hoje, conforme nos afastamos das caixinhas binárias de “masculino” ou “feminino” e começamos a viver o contínuo humano total de identidade e expressão.

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